quarta-feira, novembro 29

A Verdadeira Génese dos Heterónimos

Hoje vou falar-vos de um senhor muito peculiar. Aliás, vou falar-vos de uns senhores porque não se sabe bem se é um se são vários. O seu (s) primeiro nome é Fernando e lá rabisca uns bitaites. No outro dia, quando estava no velho sótão do meu avô (fictício), encontrei um documento escrito por esse tal Pessoa. Esse documento, vim eu a descobrir mais tarde, continha a verdadeira génese dos heterónimos. Vou aqui reproduzi-lo tal e qual como o li:

"Lisboa, não-sei-quantos de mil novecentos e tal,


Caro Sr. Casais Monteiro,

Venho por este meio comunicar-lhe que a carta que lhe enviei há umas semanas continha algumas incongruências, pelo que vou passar a corrigi-las neste documento.

Esta missiva pretende dizer-lhe qual a verdadeira génese dos heterónimos. O que se passou foi o seguinte:
Estava eu muito feliz a passear à beira-rio quando vi um indivíduo deitado na relva (possivelmente embriagado) e que bradava aos céus: “Sei a verdade e sou feliz!”. Curioso, como é meu hábito, acerquei-me dele e perguntei-lhe qual era a verdade. Orgulhoso e sorridente, o indivíduo aponta para uma flor e diz: “É isto! Porque é o que é!”. Ainda mais surpreendido, dialoguei com o homem, que me contou que na vida não vale a pena pensarmos porque basicamente chateia.
Achei-lhe piada e perguntei-lhe o nome. Tinha nascido assim Alberto Caeiro.
Uns meses depois, e já na cidade, quando passava ao lado de um caminho-de-ferro, deparei-me com um indivíduo amarrado à linha, todo ele cheio de cortes e arranhões. Principiei imediatamente a correr para salvar o pobre diabo, mas este começou a gritar que não o soltasse porque queria ter a satisfação doentia de ser atropelado por um comboio. Como não sou mal-educado, deixei-me estar e fiquei a observar o pitoresco espectáculo. Por vezes o homem largava uns “Hup-lá, hup-lá” e outras interjeições mais estranhas. Exaltava as máquinas e dizia também outras ordinarices. Achei-lhe piada e resolvi chamar-lhe Álvaro de Campos.
É assim esta a origem dos meus heterónimos mais sonantes, sendo que os outros surgiram maioritariamente quando eu me encontrava em casa a pensar na morte da bezerra.
Espero que lhe tenha esclarecido as suas possíveis dúvidas e é com muito gosto que envio os meus cumprimentos à sua família e ao senhor"
.

Fernando


P.S: Peço-lhe que não rasgue a carta ao abri-la.
P.S.S: Rogo-lhe que queime a carta logo após a sua leitura, pois não estou com cabeça para ser plagiado ou chantageado.
P.S.S: Ricardo Reis é um pseudónimo do Almada, mas não diga a ninguém se faz favor. Invente qualquer coisa.

Palavras para quê?

2 Comments:

At 9:11 da tarde, Anonymous Anónimo said...

?

 
At 8:44 da tarde, Anonymous Anónimo said...

'Sou do tamanho do que vejo e nao do tamanho da minha altura'

 

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