quinta-feira, fevereiro 9

Crónica de uma morte anunciada

Mais uma vez dou por mim na sala de espera do dentista. Na vida tenho medo de algumas coisas, e depois, há o pavor que tenho dos dentistas. Não sei porquê, mas não me agrada a ideia de me abrirem a boca e mexerem-lhe com brocas e outros objectos metálicos potencialmente perigosos.
E lá estava eu, qual prisioneiro à espera da sua sentença, sentado na sala, cabisbaixo e receoso.
-Miguel, pode vir...-ouviu-se do corredor.
Levantei-me lentamente e olhei em redor: um rapaz um pouco mais velho que eu olhava-me. Todo vestido de preto e de cabelo comprido parecia uma encarnação de um carcereiro da Idade Média. Um grupo de três raparigas olhava para mim e lançava-me sorrisinhos, não percebi a razão destes sorrisos pois estávamos todos condenados, bem, cada qual com a sua mania...
Atravessei o corredor e tentei memorizar as caras dos desconhecidos como a última recordação que traria comigo.
Entrei no consultório, um local apertado e sombrio, bem ao estilo dos meus pesadelos.
-Ora vamos lá ver esse aparelho!!!-disse o Doutor.
Do resto não me lembro, perdi os sentidos e fui submetido com certeza a muitas experiências e tratamentos ilegais, provavelmente tinham-me instalado um organismo parasita nos dentes. A minha boca doía-me terrivelmente. Abria-a e vi um emaranhado de metal e elásticos.Lembro-me de ter pensado:"estou bonito estou".
Que Doutor que seja digno desse nome faria algo assim a um ser humano? Só neste país...
Portugal é realmente um país de doutores nas mãos de doentes...

1 Comments:

At 12:58 da tarde, Anonymous Anónimo said...

e eu que presenciei isto, qual mãe sofredora......

 

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