quarta-feira, outubro 25

Resposta ao ex-vizinho do 3ºC e afins:


O meu texto escrito as três pancadas já me fez alvo de comentários como “Vai matar criancinhas para tua casa”. Acho que fui muitíssimo mal interpretado já que o texto não foi lido a luz que eu queria, muito provavelmente por culpa minha.


Em primeiro lugar, recuso me a auto intitular-me como defensor da moral e dos bons costumes, o defensor da vida e paladino da verdade. Das verdades que tenho, mas principalmente das que não tenho bem certeza. Acho que esse tipo de títulos – auto propostos ou não – roçam o jocoso, ficam mal a qualquer um e nem sequer são bonitos. Não gosto de discursos fáceis e o assumir-se como defensor da vida através do aborto e fácil demais. A vida e realmente um assunto sério demais para ter sequer vinculo politico. A ver vamos se, por exemplo, Paulo Portas ou Santana Lopes não aproveitarão este assunto para fazer uma reentre politica muito própria duma certa direita (ou centro-direita). Identificar-se-ao como os defensores da vida, defensores da Igreja e dos bons costumes, farão bons casos apresentando os mesmos clichés já ouvidos em discursos inflamados como os paladinos do raio que os parta fazem – cheios de gestos, gritos, suores na testa e eteceteras que só interessam para benefício deles próprios. Mas como digo, a ver vamos.

Em segundo lugar há a questão do discurso que está por trás de toda a questão do aborto. Aquilo que, fundamentalmente, eu estava a alertar no meu textozito escrito sem grande preocupação – achei que as pessoas que liam este blog pensavam mais um bocado sobre aquilo que lêem antes de refutar cabalmente qualquer opinião contrária. Enganei-me certamente. A questão central – ou pelo menos a mais importante – abordada naquele texto é simplicíssima: A definição de Vida qual é?

A conclusão – que a propósito também está patente nesse texto – é que é impossível definir conclusivamente o que é a Vida. Antes de me alongar mais queria explicar um pormenor: vida pode ser a animal irracional. Vida – com o V grande – é a vida de um ser humano completo. Então – agora que acho que estão todos os pontos nos ís – como separar conclusivamente vida de Vida? Quando é que a vida é promovida a Vida?

Acredito piamente que ninguém sabe – atenção sabe – responder a esta pergunta. O máximo que todos aqueles que me mandam matar criancinhas para casa podem dizer é que acreditam que é na concepção. Acreditam. Não sabem. Não tem certeza nenhuma. Mas revestem se da autoridade dos legítimos defensores da vida, consideram se os paladinos da verdade e querem, do alto da sua incerteza factual, impor uma crença própria e intransmissível aos outros. Obrigá-los a acarretar uma decisão própria e intransmissível que nem sequer é deles.

Um texto como este vai ter certamente a irónica pergunta: “então se não é na concepção é na 10ª semana?” Não sei. Perguntem ao feto. Ah esperem ele não fala, ainda não bate o coração e o cérebro mal se começou a desenvolver. Se calhar até já tem inteligência. Mas quanta? A mesma que uma mosca? Se ele disser “bzz” até que é capaz. Mas as moscas são umas chatas e então quando à noite zumbem ao meu ouvido só quero mesmo é mata-las. “é diferente porque um feto é um ser humano em potência” resposta: a frase é falaciosa. Em potencia nega o facto de ser humano. Em potencia nega também o facto que ele seja hoje um ser humano. Nega a argumentação de que a vida é atribuída no momento da concepção.

Acho então que ficou mais ou menos claro que resta só a dúvida, mas são duas da manha e o assassino de criancinhas precisa do seu sono de beleza que amanha acorda as sete. (comentário à P.H.S.S. querem o quê?)

1 Comments:

At 6:48 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Olá PHSS

vamos por partes:
1º No comentário que fiz limitei-me a:
- indicar um site em que se defende o não
- sugerir que criasses um para defender o sim (sem ironia apemas como uma sincera provocação ao debate!)
daí não podes, em caso algum deduzir que considerei que eras assanino de crianças. esse é exactamente o tipo de argumentação em que me recuso a entrar.
Parece-me a pior forma de conversar sobre este assunto e de impedir que se pense seriamente sobre isto.
Não duvido que o estudo da Literatura aumente a tua capacidade criativa de interpretação, mas há limites.

2º A existência ou não de vida humana não é uma questão de opinião pessoal.
No embrião existe um código genético irrepetivel, um corpo humano em desenvolvimento que dependendo totalmente da mãe é já autónomo.
Não sei se sabes, o Código Deontológico dos Médicos8que como deves imaginar t~em alguma autoridade neste assunto) apenas aceita o Aborto em caso de estar em Perigo a vida da mãe, por se entender que nesse caso existe um conflito do mesmo valor: a Vida.

Pode-se, como acontece na actual Lei Portuguesa, considerar que existem outras situações em que se pode colocar em causa a vida do embrião humano por se pensar que exite um conflito sério de valores(na actual Lei Portugues a violação, mal formações do feto e perigo de vida da mãe)

Podes considerar que existem razões para que se permita o Aborto, em que é lícito dispor de uma vida humana, mas dizer que não existe vida humana parece-me que é uma forma de colocar em causa um argumento sólido do ponto de vista ciêntifico mas também filosófico. Julgo que isso acontece exactamente pelos defensores da liberalização do aborto terem a conscIência da solidez do argumento.

se de facto o juízo do que é a vida humana estivesse dependente de cada um, o mundo seria perigoso.
não querendo fazer comparações com o teu pensamento, posso dizer-te que há quem defenda que os deficientes profundos não são seres humanos... e não estou a falar de extremistas! estou a falar de respeitados professores Universitários.... compreendes o perigo que seria deixar a cada um de nós a decisão do que é a vida humana!

e. se a vida humana não começa no momento da concepção, quando começa...? Em que semana? com que critário... é só quando se nasce? ( e os permaturos temq eu esperar pelos 9 meses mesmo já tendo nascido?)

Aliás para entederes como no fundo todos reconhecem o aborto como um mal é só ouvirres aqules que dizem que votar sim não significa ser a favor do aborto, significa querer libertar as mulheres da condenação e do aborto clandestino.

3º todas as leis exprime um juízo de valor. apreciam como bom ou mau um determinado modo de agir. ao liberalizar o aborto faz-se um juízo de valor, há também uma atitude moral, ética por de trás desta lei. neste caso a Liberdade da mãe é tida como sendo um valor superior ao da vida do embrião humano. é com esta concepção com estou totalmente contra.
As razões económicas e sociais resolvem-se com medidas económicas e sociais.
Cada uma das opções em causa neste referndo exprime um juízo de valor.. por isso não vale a pena falares em paladinos da moral...
os defensores do aborto não são mais nem menos moralistas que os que pertendem, como eu, votar não...
Se fosse aprovada a Lei que vai a referendo estaria a exprimir como Valor que a Liberdade Individual da Mulher é superior ao Direito à Vida do embrião humano.
estaria a exprimir o aborto se não como um bem, pelo menos como um mal menor... é nisto que acreditas?

4º A defesa ou não do aborto não é uma questão religiosa, de esquerda ou direita. Há pessoas de esquerda que são contra e pessoas de direita que são a favor. Dou-te um exemplo de um senhor de que talvez já tenhas ouvido falar: Norberto Bobbio.
É Filósofo da área da filosofia Política, de esquerda e amnifestou a sua opinião contrária ao aborto.

Aliás alguns dos mais acérrimos defensores do aborto são os Liberais de direita... os que é coerente, ate certo ponto, com a sua exaltação das liberdades e iniciativas individuais(sobre simplificando bastante as coisas).

Pessoalmente entendo que o a legalização do aborto está profundamente ligada ao pior que um capitalismo liberal e desumanizado pode gerar... mas isso era outra conversa.

para terminra gostava de dizer-te que sendo este um assunto muito delicado todos temos que ter cuidado com as palavras que usamos e com a seriedade dos nossos argumentos.
aceita um abraço

 

Enviar um comentário

<< Home