Laivos
Atravessava a rua obscura e deserta, olhou para os dois lados e não viu ninguém:
-"Que algum carro me atropele já aqui!"
Não ia acontecer.
As folhas dos plátanos deslizavam pelos passeios repletos de jornais amachucados e manchados pela sujidade dos sapatos indiferentes dos traseuntes.
-"Agora!"
Nada.
Era angustiante ver-se naquela situação, algo tão comum mas tão difícil de enfrentar...
-"Se me tivessem deixado..."
Pisou a passadeira hesitante. De que valeria continuar a rotina se nem o vento se preocupava em enrregelá-lo? Deu meia volta e inverteu tudo. Para quê querer dar sentido ao que tinha apenas de ser experimentado?
-"Não, não vou começar a pensar, senão não chego a lado algum. mas afinal, aonde é que eu quero chegar. Mesmo que atinja o meu objectivo quem é que o vai reconhecer? Quem é que o vai festejar para além de mim? Quem é que me vai felicitar? Preciso de encontrar antes de chegar. Não posso estar sozinho, senão nada me vale de nada e nada vale nada."
Tropeçou e caiu no chão. Deixou-se ali e caído e pensou pela última vez:
-"De que me vale pensar sozinho?"
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